... Aleixo!!
Ontem decorreu mais uma ronda dos sem abrigo do meu grupo, e estava tudo a correr muito bem até chegarmos ao Aleixo!
Eles já esperavam por nós sentados no passeio.
Vi e senti a confusão em cheio quando saímos do carro e abrimos a mal para dar-lhes algo de comer.
Um amontoado de pessoas atrás de nós e só sentia o meu corpo a ser empurrado para dentro do carro. A confusão era tal que nem conseguíamos respirar.
De repente só ouvímos uma voz, uma pessoa, uma simples frase:
"VAMOS EMBORA!"
O Fernando o nosso líder, mostrava-se irritado com aquela situação e virou-se para nós e para eles (sem-abrigo) e gritou:
" Faço 100 km para estar aqui, para vos ajudar e vocês não nos respeitam! Pessoal, todos para os carros e vamos embora!"
Fiquei estupefacta!
Nunca tínhamos vindo embora sem distribuir tudo o que temos a dar, mas isso aconteceu ontem.
Entretanto tivemos a hipótese de ainda dar de comer a alguns sem-abrigo que passaram na zona que nós parámos para conversar.
A sensação com que fiquei é que o desespero é tal que as pessoas deixam se ser pessoas e passam a animais!
Fiquei com imensa pena daquela gente que logo após ouvir o primeiro grito do Fernando prometeu colocar-se em ordem, mas já tínhamos ameaçado várias vezes e a confusão voltava a instalar, mas desta vez foi a sério. Cumprimos com o que dissemos.
Daqui a três semanas espero que corra bem melhor!
.... eu faço voluntariado aqui na cidade do Porto.
Aos domingos á noite lá saio eu para ajudar e confortar aqueles que precisam. Mas este domingo não era o meu grupo, mas sim outros amigos meus.
Contudo há algo que tenho reparado e ontem o que vi despertou em mim algo de tão desolador que nem sei bem como expressar-me.
Devido a este trabalho de voluntariado eu sei onde é que a cada rua, a cada avenida ou em cada curva dorme um sem-abrigo. E de manhã ou durante o dia passo por essas ruas e digo mesmo para mim : " Logo cá estarás tu, amigo, a preparar a tua cama, o teu quarto como tu lhe chamas com cobertores sujos e caixotes desfeitos!".
O que me me impressionou foi ontem ao sair do trabalho e seguir rumo a casa á 1.00 da manhã, sempre a pé como de costume, passar por uma rua e ver um ser humano, deitado á porta de um prédio, embrulhado em cobertores.
E fiquei perplexa porque nunca, mas nunca naquela rua se tinha visto um sem-abrigo.
Á mente veio-me logo o desemprego para aquela situação. E revoltou-me pensar que mais sem-abrigos irão existir porque o desemprego anda aí, o rendimento mínimo não dura para toda a vida e as pessoas não vêm outra solução para os seus problemas. Ficam individadas, vêm-se obrigadas a vender bens e até a casa, e o último destino é a rua. E garanto-vos que não é nada agradável viver em tão sub-humanas condições.
Só me apeteceu aconchegar aquela pessoa fosse quem fosse. Dar uma palavra de conforto.
E irritou-me ainda mais a falta de respeito de 4 jovens que se encontravam perto da entrada deste prédio. Estavam á beira do seu carro a combinar a sua saída a altos berros, com o senhor alí a tentar descansar. E mesmo que não tivesse a descansar, este é talvez o único momento do dia em que se pode recolher a um espaço que também não é muito confortável, mas que ele toma como sendo dele.
Tenho medo, porque não sei onde este mundo vai parar. Mas tenho esperança porque existe muita boa gente a querer ajudar os que já perderam esperança em si próprio!
É nestas noites frias que mais me lembro de vocês "amigos" da rua..
Saio de casa e olho as calçadas nas quais vocês se deitam e imagino quanto de vocês sentiram e tremeram de frio na noite...
Lembro-me das vossas mãos trémulas que seguram o café quente que vos entrego com tanto carinho, e imagino que agora devem estar 1000 vezes pior...
Era tão bom que todos ajudassem! Nem que seja com um simples cobertor...
Somos todos humanos...
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